Amor Pelo Avesso


KOTTER EDITORIAL

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*** Qual é a potência do amor? O ato de amar possui uma dimensão ética, política e estética? Quem amamos e como amamos?Em Amor pelo avesso: de Afrodite a Medusa. Estética da existência entre antigos e contemporâneos, Cassiana Stephan caracteriza e distingue duas formas de relação que o si pode entreter consigo mesmo, com os outros e com o mundo: uma que se manifesta no contexto das estruturas normativas que legitimam e institucionalizam os laços sociais, e outra relativa às dinâmicas afetivas que transgridem os limites das normas e subvertem as tradições vigentes em nossa sociedade. A autora coloca em diálogo alguns aspectos da análise de Michel Foucault sobre a estética da existência com as reflexões de Pierre Hadot, Jean-Pierre Vernant, Judith Butler e Marguerite Duras no que concerne às relações entre o si mesmo e os outros.Assim, ao mobilizar o olhar subterrâneo de Medusa, cujos traços nos remetem à sabedoria astuciosa da Afrodite ctônica, Cassiana Stephan nos mostra que colocar o amor em questão é perguntar pelo modo como conduzimos a vida e enfrentamos a morte neste mundo que é nosso por não ser de ninguém. ***Uma filosofia noturna? Uma filosofia pelo avesso? O avesso da filosofia seria sua negação? Ou haveria uma filosofia outra? Um saber outro exigiria outra forma de amar?É curioso que a filosofia, tão inquiridora desde as origens, não tenha se colocado essas questões. Tal esquecimento talvez tenha pavimentado a metafísica em seu amor solar por clareza, distinção, hierarquia, ordem, regra, método. Tudo que não coubesse no cânone seria não-filosófico. Ou pior: seria contrário à filosofia, que somente poderia se conceber como una, pura, desprovida de avesso.Aliando criatividade intelectual, rigor e beleza, Cassiana Stephan se vale de Foucault, Hadot, Vernant, Blanchot, Duras e Butler para nos mostrar que, sim, há uma filosofia pelo avesso e, portanto, também um amor pelo avesso. Essa forma outra de relacionar o amor à sabedoria vincula a filosofia às urgências do presente e, deste modo, também aos outros e ao mundo. Essa filosofia outra requer a transformação de si, dos outros e desse mundo que, a despeito de nos ser comum, o é de formas tão desiguais e violentas. Esse amor filosófico pelo avesso é também intrinsecamente ético, político e estético. Dissolvem-se assim as fronteiras disciplinares tradicionais em nome de outra forma de viver consigo e com os demais. Mas para tudo isso é preciso amar a noite e enxergar beleza ali onde a filosofia tradicionalmente não a encontrou.Ao fazer de Medusa sua musa filosófica, Cassiana Stephan convida ao exercício corajoso de olhar de frente e acolher aquilo que sai do prumo e escapa à ordem, pondo em questão hierarquias, valorações e relações de poder bem estabelecidas. Eis aí uma atitude filosófica mais do que urgente nos tempos que correm.André Duarte***
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