|
a Vida Inteira
CALANDRONE, MARIA GRAZIA
URUTAU EDITORA
55,00
Estoque: 65
|
Há algo de selvagem na escrita de Maria Grazia Calandrone. É preciso explicar: refiro-me ao selvagem pensando na qualidade daquilo que nasce, cresce e vive como um pequeno milagre, sem demandar atenção ou cuidado, e, acima de tudo, na qualidade daquilo a que não se pode domesticar. Falo de quando amor, vida e morte subvertem o que poderia ser considerado a justa medida.
Adotando diferentes registros, a poesia de Calandrone flerta com intensidades. Em um poema desta seleção, ela diz: “como são laboriosas as criaturas,/com quanta atenção passam os pincéis/nas pranchas de madeira/no entanto sabem que devem morrer”. E mais adiante, no fim desse mesmo poema: “(…) o sorriso que/diz eu estou vivo, eu neste momento/estou vivo pra sempre”.
Viver o momento como quem vive para sempre é não abrir mão da vida durante aquele instante. É isso que, ao que me parece, ela faz tanto no conteúdo quanto na forma da sua poesia. Claro que, ao mesmo tempo, há o reconhecimento de que nunca se deixa de morrer enquanto se vive. A vida é tecida em espirais: “Não adianta lembrar/quando o amor se transforma em monstro. Não adianta lembrar/quantas vezes eu já morri/enquanto estava viva. Não adianta lembrar/do abandono. Uma pessoa é aquilo que ela contém/depois de a vida/ter trabalhado a tora da vida/até a medula, até dela fazer um barco levíssimo/que se mantém no mar/sob qualquer céu.”.
Para finalizar, há um trecho específico que grifei e gostaria de mencionar aqui. Calandrone, a certa altura, diz: “é por esse/raio de sol sobre as louças/pela calma solidão/das coisas/e pelo luminoso estar/das coisas em si mesmas/que continuamos vivos”. No fundo, é o exame detalhado da vida que norteia esta seleção precisa de poemas. A vida inteira — e seus pequenos milagres, pulsando sob uma lupa.
Lilian Sais
|
|
|