A Destruição da Palestina é a Destruição do Planeta

MALM, ANDREAS
ELEFANTE EDITORA

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Neste ensaio, escrito seis meses após o início do genocídio israelense em Gaza, Andreas Malm discute o encontro, na Palestina, dos dois maiores problemas da humanidade, hoje: a guerra e a crise climática — uma história que, segundo o autor, não começou em 7 de outubro de 2023 (com os ataques da resistência palestina em território israelense), nem em 1967 (com a Guerra dos Seis Dias), nem em 1948 (com a Nakba e a fundação do Estado de Israel), mas em 1840, quando o maior navio a vapor (ou seja, movido à carvão) da marinha britânica enfrentou sua primeira campanha militar relevante, justamente bombardeando e destruindo a cidade de Akka, no litoral palestino, com enormes baixas civis. Também em 1840, na esteira do conflito (provocado para garantir mercado para os produtos têxteis vindos da Inglaterra e para frear a industrialização do Egito), os britânicos começaram a incentivar a colonização da Palestina por judeus, popularizando o falacioso termo “uma terra sem povo para um povo sem terra” e dando início à “febre sionista”, que na época era impulsionada principalmente por cristãos. Ou seja, o momento que iniciou a globalização da energia a vapor, por meio de seu uso na guerra, também foi o momento que concebeu o projeto sionista. A destruição da Palestina é a destruição do planeta é um livro instigante, fruto de longa e farta pesquisa documental, e essencial para expandir a compreensão tanto da Questão Palestina como do que Malm chama de “imperialismo fóssil”. *** Há momentos específicos de articulação entre a destruição da Palestina e a destruição do planeta? Por momentos de articulação, entendo pontos em que um processo impacta e forma o outro, em uma causalidade recíproca, uma dialética de determinação. Minha resposta é sim, de fato, tais momentos de articulação têm se concatenado em uma sequência bastante rigorosa por quase dois séculos. Por ser um aficionado em história, voltarei ao momento em que tudo começou: 1840. Os eventos daquele ano têm sido uma obsessão perene para mim. […] Naquele momento, a Grã-Bretanha era o maior império que o mundo já tinha visto, construído com base na supremacia naval, até então fundamentada na tradicional força motriz do vento. Nos anos 1820, porém, a Marinha Real começou a considerar a propulsão a vapor — ou seja, a queima de carvão em vez de navegação com o vento, uma vez que o vento, apesar de ser uma fonte “renovável”, como chamaríamos hoje, inesgotável, barata, gratuita de fato, tem limitações bem conhecidas. […] A primeira vez que os britânicos tiveram a oportunidade colocar esse aperfeiçoamento em prática foi em 1840, nas costas do Líbano e da Palestina. — Andreas Malm, trecho do livro
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