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Comportamento Motor e Neurociência Cognitiva - Temas Atuais - 01Ed/24
APOLINARIO-SOUZA; FERNANDES; LAGE
EDITORA DOS EDITORES
85,00
Sob encomenda 8 dias
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Os primeiros seres vivos - há cerca de quatro bilhões de anos - tinham que interagir com o meio ambiente de forma efetiva, de modo a garantir a troca de substâncias e a energia necessárias para a manutenção dos seus processos internos, a sua autopoiese. Esses seres procariotas, num ambiente aquático, necessitavam mover-se, aproximando-se de alimentos ou fugindo de substâncias tóxicas, por exemplo. Podemos considerar, portanto, a existência de um comportamento motor já naqueles primeiros organismos. Por outro lado, eles tinham que processar as informações disponíveis, de modo a desencadear uma conduta que garantisse sua existência e muitos autores já consideram esse processamento como cognição. Nessa perspectiva, a cognição e o comportamento motor estão intimamente interligados desde o aparecimento dos seres vivos. Os processos mentais, ou a mente, têm a função de computar as informações necessárias para a interação adequada entre os organismos e seu ambiente e é isso que chamamos, em última análise, de processamento cognitivo. Assim, todos os seres vivos necessitam desse processamento e têm uma mente, mesmo que seja muito primitiva. Mais ainda, a mente não poderia ser separada do corpo, nem do ambiente onde ele se encontra, pois dessa interação decorre o processamento que a origina. Durante milhões de anos, todo o processamento das informações e todo o comportamento resultante era feito por estímulos e respostas baseados em processos físico-químicos relativamente simples, sem envolver o que chamamos de processamento consciente. Isso teve continuidade, mesmo com o advento dos seres pluricelulares e o aparecimento de um sistema nervoso mais organizado (há uns 600 milhões de anos), que passou a coordenar o processamento das informações e o controle da conduta. O fenômeno da consciência, tal como a experimentamos, só teria sido possível com o surgimento de um sistema nervoso bastante complexo e com uma disponibilidade da energia necessária para o seu funcionamento, provavelmente com o surgimento dos animais homeotermos. Toda essa evolução, ocorreu de forma gradativa e não há motivos para considerar que tenham se modificado as relações entre os processos mentais e o controle do corpo. Ou seja, a mente e o corpo permaneceram e permanecem como um contínuo inseparável. Contudo, em nossa cultura, a visão predominante entreas relações mente e corpo, pelo menos em relação à espécie humana, tem sido eminentemente dualista. O pensamento corrente ainda segue René Descartes (1596-1650), que descreveu a nossa natureza como possuindo um corpo material e uma mente imaterial. Não é difícil perceber que nossa espécie evoluiu de modo a possuir funções cognitivas mais extensas que outros animais, mesmo aqueles bem próximos de nós em termos genealógicos. Mas, tudo indica que essas diferenças são, na realidade, quantitativas e não qualitativas. Ainda assim, durante muito tempo a motricidade, ou o controle do movimento do corpo era considerado, mesmo na comunidade científica, como algo à parte do funcionamento mental. Foi necessário o aparecimento da revolução cognitiva, na segunda metade do Século XX, para que houvesse uma modificação dessa situação. A partir daí foi possível pensar no controle motor como integrado a um processamento cognitivo mais amplo. Mesmo para aqueles que consideram cognição apenas como o processamento de funções mais complexas e que incluem a consciência. É nesse cenário que encontramos essa obra, o “Comportamento Motor e Neurociência Cognitiva: Temas Atuais”, que exemplifica cabalmente como em um tempo relativamente curto foi feito um enorme progresso desse conhecimento, tornando multi e transdisciplinar o que até poucos anos era estudado separadamente, pela neurobiologia, pela psicologia ou pela fisiologia do esporte. Os textos nela apresentados revelam, por outro lado, como em um tempo relativamente curto, formou-se em nosso meio um grupo de pesquisadores altamente qualificado, trabalhando em linhas de pesquisa interrelacionadas e dialogando com o conhecimento de ponta nas pesquisas internacionais. Como resultado temos um conjunto de textos em que os leitores interessados poderão conhecer diferentes aspectos do que se sabe e se estuda, atualmente, nessa área do conhecimento, possibilitando não só uma atualização, mas também um incentivo para a busca de novos saberes que aprofundem a sua compreensão. Trata-se de uma obra inegavelmente bem-vinda e para a qual podemos vaticinar uma utilidade duradoura. Ramon M. Cosenza Médico pela Universidade Federal de Minas Gerais (1971), com mestrado e doutorado em Ciências (Morfologia) pela UFMG. Tem atuação na área de Neurociências, com ênfase em Neuroanatomia e Neuropsicologia. Foi diretor do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG e da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade FUMEC.
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