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Minha Vida Na Saúde Pública: Os Desafios Das Epidemias
SOUZA, CARMINO ANTONIO
EDITORA DOS EDITORES
120,00
Esgotado
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Quando sugeri ao meu amigo-irmão, Cármino, vindo de encontro à intenção dele próprio, a mim manifestada, escrever um livro sobre sua vida após 70 anos de benfazeja existência, para relatar as múltiplas e multifacetadas experiências vivenciadas na área da medicina, estava e estou convicto de que não se tratava apenas de sugerir o lançamento de mais uma biografia na praça, gênero literário tão em moda nos dias que correm. Não, absolutamente. Tinha consciência de que, sem embargo da grande estima e admiração que temos um pelo outro, em função de uma amizade longeva e amadurecida na partilha de momentos de prazer e de dor, estava contribuindo, sem dúvida, com a disseminação de uma linda e apaixonante história de vida e amor, humanizada pela inteligência, sensibilidade, entrega e dedicação de um grande profissional da Medicina. Uma história que começa com um grave acidente na infância, cinco meses de internação em hospital público, sob tratamento intensivo, muitas cirurgias restauradoras e uma marcante e exemplar convivência diuturna com médicos, servidores e enfermeiros dedicados e comprometidos com seus pacientes, até a consagração, mais de sessenta anos depois, como uma das mais relevantes referências internacionais na área da Hematologia e Hemoterapia. Envolta aquela criança de amor e cuidado imensuráveis, surgiu daí a fé e a paixão pela vida, o respeito pelo homem e a condição humana, e a inclinação para a área do conhecimento, cujo objetivo é a preservação da saúde e da vida, como bens fundamentais a todos os homens. Essa trilha de conquistas que se segue a uma origem modesta e o reconhecimento unânime de sua relevância, bem ilustra a advertência do famoso escritor português, Antonio José da Silva, conhecido pelo apelido de “O Judeu”: “Estranhos são os meios que a Fortuna toma para facilitar felicidades aos homens: dos mais pobres nascimentos muitas vezes os expõe às dignidades supremas, e dos mais nobres e ricos precipita para as desgraças incomparáveis”. Contemplado com a primeira parte da advertência, formado pela Universidade Estadual de Campinas, a nossa renomada e querida Unicamp, seu sucesso já era profetizado pelos seus docentes, que se tornaram permanentes admiradores de seus predicados. Aliando talento, comprometimento, caráter, humildade, sensibilidade e, sobretudo, respeito a tudo e a todos, Cármino logrou sucesso e reconhecimento junto à comunidade científica internacional, seja como professor e orientador de novos médicos e cientistas, seja como pesquisador de excelência na sua especialidade, seja como consultor de instituições públicas e privadas, seja, finalmente, na condução de duas Secretarias de Saúde, cargos que exerceu a convites, respectivamente, de Governador do Estado de São Paulo e do Prefeito do Município de Campinas. Na complexa gestão da saúde pública, buscou e obteve recursos valiosos, realizou obras para criação e fomento de instituições que se tornaram imprescindíveis para a comunidade, como o Hemocentro da Unicamp e leitos especializados para queimados. Onde esteve nos últimos cinquenta anos, fez amigos, esteve à disposição de milhares de pacientes da pública ou particular, difundiu e contribuiu com a disseminação de conhecimento sedimentado e de inovação, lembrando aquela advertência de Hipócrates para quem “Onde quer que a arte da Medicina seja amada, haverá também amor pela humanidade. ”Poderia, por certo, se enriquecer, tivesse optado pelo exercício da Medicina privada, mas não era esse seu objetivo e vocação. Ao contrário, toda a amplitude de suas atividades tinha como meta sempre, direta ou indiretamente, a saúde pública, ferrenho defensor que era e é do nosso SUS, exemplo em que se transformou para o mundo como projeto amplo e incondicional de atendimento a todos aqueles que buscam guarida em unidades de saúde da pública federal, estadual ou municipal ou em hospitais privados conveniados. Na sua trajetória profissional, enfrentou enormes desafios ditados por sucessivas epidemias, como a de meningite (1974-1976), quando era residente interno na Unicamp, a do HIV, nas décadas de 1.980 e 1.990, quando se tornou responsável, perante a Secretaria de Saúde de São Paulo e o Ministério da Saúde, para desenvolver programa visando solucionar a contaminação pelo vírus, por via da transfusão de sangue, e, mais recentemente, como Secretário de Saúde do Município de Campinas, a das chamadas arboviroses, como a dengue e suas coirmãs, e a pandemia do Sars-CoV-2. Quanto a esta, Cármino, honrando o seu histórico de vida, mesmo fazendo parte do grupo de risco, não deixou um dia sequer de estar presente na Prefeitura e, ali, em conjunto com o Prefeito, Secretários e servidores, estabelecer diálogo ininterrupto com os Diretores de Unidades de Saúde, a imprensa e a população, orientando a adoção de medidas que permitissem acolher todos os doentes que se contavam a centenas e milhares nas portas dos hospitais e unidades de saúde. Em meio à tristeza das mortes que a epidemia fez e ainda faz no mundo e no Brasil, não esmoreceu, nem perdeu a esperança, orientando os planos de emergência a serem implantados em toda a cidade, em cumprimento dos protocolos sanitários.Malgrado a intensidade de suas atividades profissionais, constituiu exemplar família com a esposa Célia, os filhos Thiago e Clarissa, a nora Tatiana, e as adoráveis netas Maria Clara e Manuela que, ao lado dos amigos que fez ao longo da vida, dão hoje o sentido transcendental da existência a esse homem que deixa um importante legado como pessoa, cidadão, marido, pai e avô, médico, professor, pesquisador, amigo. Otimista, sempre travou batalhas sem temor contra a morte, buscando afastá-la a todo custo, em nome da valorização da vida humana e sua qualidade, retratada com fidelidade e humor pelo nosso poeta Mário Quintana: Um dia.… pronto... me acabo. Pois seja o que tem de ser. Morrer que me importa?... O diabo é deixar de viver! Pelo eterno Gonzaguinha na composição que faz homenagem à vida e à saúde: “Sempre desejada, por mais que esteja errada, ninguém quer a morte, só saúde e sorte” ou no desabafo do grande Chico Anísio ao saber que seu fim estava próximo: “Tenho pena de morrer. ” Sério e profundo nos seus misteres de vida, Cármino é também um narrador ou um contador de histórias com leveza e humor, o que poderá sentir o leitor na leitura deste livro. Enfim, temos aqui mais uma obra biográfica que, longe de se traduzir em mero interesse subjetivo do autor em registrar a sua trajetória, resinificando acontecimentos e condutas, serve de instrumento de fé e esperança aos novos profissionais que se formam todos os anos pelas Faculdades de Medicina de todo o país e, sobretudo, de estimulante exemplo de vida, num mundo carente de reais referências de valores éticos para a juventude desse difícil e complexo mundo da pós-modernidade.
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