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Senhorita Christina
ELIADE, MIRCEA
TORDESILHAS
104,00
Estoque: 13
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Depois de tantos vampiros amansados, que até renunciam ao sangue humano, nada como oferecer terror de primeira qualidade ao público apreciador do gênero, permeado pela maldade que fez a carreira e a fama desses seres meio mortos, meio vivos. Senhorita Christina é uma novela rigorosamente dentro dos padrões internacionais do vampirismo, com um detalhe: foi escrita por um dos maiores intelectuais do século XX, Mircea Eliade, mais conhecido como historiador das religiões, e no país de origem do conde Drácula – a Romênia. O ano é 1935. Ígor, jovem e belo artista plástico, e o professor Nazarie, arqueólogo, são hóspedes do imenso casarão sede de Z., latifúndio decadente em Giurgiu, distrito na fronteira romena com a Bulgária. A senhora Moscu, dona da propriedade, vive com as filhas, a jovem Sanda e Simina, de nove anos. À medida que os dias – e sobretudo as noites – passam, fenômenos cada vez mais estranhos se sucedem, a começar pelo comportamento da senhora Moscu – acometida de súbitas ausências, como que hipnotizada por alguém – e de Simina, cujo cruel cinismo é incompatível com uma criança. Sanda, por sua vez, parece prisioneira de um terrível segredo que não consegue ou não pode explicar a Ígor, por quem se apaixona. Aos poucos, os hóspedes percebem a ascendência de senhorita Christina, irmã da senhora Moscu, morta aos vinte anos durante uma revolta de camponeses que tomou a Romênia em 1907. Seu quarto permanece intocado, e o enigmático retrato da dama domina o aposento, impressionando Ígor. Simina diz conversar com a tia morta e ela mesma começa a aparecer em sonhos para o artista, a quem revela sua paixão. Sonho e realidade vão se mesclando, e Ígor já não sabe distinguir se delira com a presença de Christina em seu quarto, onde ela deixa a inconfundível fragrância de violeta, ou se está se envolvendo com a loucura de uma família doentia. Tudo se encaminha para o embate velado entre Christina, mistura de fantasma e vampiro, e Sanda, que disputam, em condições bastante desiguais, o amor do mesmo homem. Este, por sua vez, é acossado pela volúpia da morta-viva, em cenas de extrema sensualidade, enquanto se compromete com Sanda – já agonizante no leito, atacada por moscas espectrais que vão lhe sugando o sangue. O final é apoteótico, e não se revela aqui para se preservar o prazer da leitura. Porque, de fato, a leitura de Senhorita Christina é prazerosa, sobretudo para os que apreciam o suspense e o terror. A atmosfera é lúgubre, mas sem aqueles exageros que hoje até soam cômicos: nada de dentes caninos protuberantes, castelos tenebrosos, morcegos ameaçadores ou urnas funerárias que servem de cama quando surge a aurora. A fatalidade impera, e todos os personagens são prisioneiros da presença diabólica de Christina até o desenlace da narrativa. E todos são psicologicamente densos, ao ponto de Simina, com sua perfídia protegida pela aparente fragilidade de criança, aterrorizar o leitor. Ao mesmo tempo, uma intensa sensualidade permeia o livro – acusado de “pornográfico”, quando publicado em 1936, o que valeu a Eliade uma suspensão temporária da universidade onde lecionava. Em tradução direta do romeno, a luxuosa edição do Tordesilhas guarda outro presente: as belas ilustrações de Santiago Caruso, argentino que ilustrou A condessa sangrenta, de Alejandra Pizarnik, também publicado pelo Tordesilhas. O posfácio é do romeno Sorin Alexandrescu, sobrinho de Mircea Eliade e especialista na obra do tio.
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