No Canto Dos Ladinos

RIBEIRO, QUITO
TODAVIA EDITORA

59,90

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Aqueles que leram Também os brancos sabem dançar, de Kalaf Epalanga, devem ter reparado na presença de um afiadíssimo e bem-conectado personagem brasileiro que introduz o próprio autor em nosso universo cultural e musical. Pois esse amigo baiano do escritor e músico angolano é nada menos do que Quito Ribeiro, autor deste romance. No canto dos ladinos enfeixa e dá sentido a um conjunto de histórias que vão compondo um quadro muito original. São personagens que vivem em bairros afluentes, viajam para conferências no exterior, frequentam bons restaurantes. Um traço em comum é sua negritude. Outro, o fato de serem figuras difíceis de acomodar nos padrões sociais — e ainda racistas — do Brasil. "E no Brasil pode ser bem estranho um negro sentar-se num restaurante chique de um bairro de classe alta, usando uma roupa descolada, indo tomar um café da manhã no dia seguinte à virada de ano. Esse é um hábito para brancos brasileiros", diz a certa altura um personagem do livro. Com grande habilidade narrativa, o autor traça um quadro amplo do ponto de vista social e delicado do ponto de vista subjetivo. O resultado a partir desses dois campos de força é a atordoante leitura de nossa vida social. A chegada de milhares de estudantes negros às universidades nas últimas duas décadas; a recente e enorme difusão da obra de Frantz Fanon, o fundamental pensador antirracista e anticolonial; a busca por uma ancestralidade cujos registros foram apagados pelos escravizadores; as tradições familiares; o espaço movediço dos negros que dispõem de recursos materiais mas que ainda assim estão sujeitos ao preconceito e à ofensa. Tudo isso aparece neste romance que oferece — com inteligência e num texto que lança mão da ficção, do ensaio e do memorialismo — um painel singular da vida contemporânea brasileira.